sexta-feira, 11 de setembro de 2009

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE – HISTORIETAS DE ANTANHO (6)

Foi o navio Império que, como passageiro de 3ª classe suplementar, me levou até São Tomé e Príncipe. Companheiros de viagem: José Maria, António, Louro, Américo e Eliseu, todos praças militares, com destinos diversos. Só eu é que fiquei em São Tomé. Saímos de Lisboa ao meio-dia do dia 6 de Junho de 1964, ao som da canção nacionalista “Angola é nossa!”.
Cerca de 24 horas depois escalámos o Funchal (primeira foto), onde aproveitámos ir comer a Santo António uma espectacular espetada, que estava saborosíssima e os aditivos bem melhores… Mas a coisa não correu bem, já que nos atrasámos e tivemos que regressar de táxi ao cais e, quando lá chegámos, o barco já estava a fazer as manobras de desatracação, mas lá conseguimos reembarcar. Mas no dia seguinte fomos chamados ao oficial de dia e levámos não só com o correspondente raspanete do reboliço que provocámos como o facto de andarmos desfardados… Malta nova é tramada! A vida a bordo foi fantástica (sempre à civil), pois como não íamos em contingente militar, fazíamos vida de lorde, com idas à piscina, banhos de sol, excelente comida servida a tempo e horas, muito descanso, ver os peixes voadores a acompanharem o andamento do barco, animação, principalmente à noite, enfim, mais parecia um cruzeiro para gente jovem… Como tinha alguma queda para o ténis de mesa, devo dizer que comecei a jogar na classe onde viajava e terminei na primeira classe defrontando a oficialidade. Nem sei quantas bolas de celulóide ficaram no Oceano Atlântico!
O Império também serviu para transportar grandes quantidades de tropas portuguesas para outros portos. Pertencia à CCN-Companhia Colonial de Navegação e foi construído em 1948 e abatido em 1974. Em viagem normal albergava 799 passageiros.
Só com militares a lotação ia até três vezes mais… Calor humano, não faltava!
Chegámos ao largo de São Tomé na madrugada de 15 de Junho. Desembarquei para uma lancha que me levou até terra firme, no cais da Baía Ana Chaves. Logo encontrei à porta de armas do quartel da Polícia Militar, de serviço, o meu bom e saudoso amigo Manuel Almeida – brincámos desde miúdos e crescemos no Jardim do Príncipe Real (Lisboa), e perguntei-lhe o que fazia ali. Logo respondeu-me “que estava a tomar conta daquilo…” Bom companheiro que cedo se foi embora. Não resistiu a um cancro. E pronto, este é o relato da minha ida, cuja viagem poderei considerar como uma experiência agradável a todos os títulos, perante a adversidade ter que estar dois anos fora dos meus e do meu ambiente. O que já não se poderá dizer do retorno a Lisboa, que, no navio Niassa, foi para esquecer, tão mal tratados fomos, mesmo abaixo de cão!

2 comentários:

António Serrano disse...

Eu VIM no "Império", em Junho de 1968. Sempre as saudades de uma "vida" que não quisemos viver e agora nos fascina...

António Serrano disse...

Eu VIM no "Império", em Junho de 1968. Sempre as saudades de uma "vida" que não quisemos viver e agora nos fascina...