segunda-feira, 28 de setembro de 2009

FERNANDO PLÁCIDO, MEU IRMÃO, FAZIA HOJE 70 ANOS DE IDADE…

Pois é verdade, o tempo passa e quase que disso não se dá conta.

Nasceu em 28 de Setembro de 1939 e faleceu em 4 de Novembro de 2002, sempre foi um militante de causas humanas e solidárias, especialmente perante a vizinhança a que se dedicou de alma e coração. Consegui aceder a dados que nos dão conta da sua passagem pela vida militar, que vale a pena ler, pois foi um daqueles que Salazar queria que os mais de 3.000 militares dessem a sua vida pela Pátria, defendendo Goa, Damão e Diu até ao último homem! O ditador queria o sacrifício total!

Assim não entendeu, e bem, o seu último Governador, o General Manuel António VASSALO E SILVA (n. 08.11.1899 e f. 11.08.1985) que se rendeu, com o mínimo de consequências para os seus homens, a um exército de 35.000 homens, apoiados fortemente pela força aérea e marinha de guerra, muito bem equipadas. No cômputo geral as baixas registadas nas tropas portuguesas foram 30 e do lado indiano 22. Os feridos atingiram os 57 e 51, respectivamente. Por tal acto – o ter salvo milhares de vidas humanas, não só militares, como familiares e naturais que respeitavam as nossas cores – foi expulso do Exército em 1963 por ter desrespeitado as ordens do tirano, mas a sua reintegração foi um facto logo após a revolução dos cravos.

Quanto ao meu irmão direi que foi inspeccionado e apurado para todo o serviço militar em 26 de Junho de 1959, vindo a ser incorporado, como recrutado, em 4 de Outubro de 1960, no Regimento de Infantaria 1 (Amadora-Sintra), com o registo 1960/K/901. Mas já tinha destino traçado: Dita Índia Portuguesa! Neste dia a nossa mãe chorou bastante ao saber desta fatalidade.Fez a instrução e tirou a especialidade de atirador de infantaria em 29 de Janeiro de 1961. Seguiu para Mormungão, incorporado na Companhia de Caçadores 10, no navio Niassa às 10H00 do dia 8 de Março de 1961, tendo chegado a 27 do mesmo mês e adidos ao Agrupamento Afonso Albuquerque.

A rota seguida foi a do Canal Suez, mas, já depois de o terem passado e ter-se iniciado o conflito em Angola receberam ordem para avançar para África. Os egípcios nessa altura proibiram a passagem de qualquer navio português e, então, lá rumaram para a costa indiana. Verificou-se a invasão em 18 de Dezembro de 1961 e, após a rendição, esteve preso até 8 de Maio de 1962, em Mormungão, conjuntamente com 1.750 companheiros de cativeiro. Neste espaço de tempo nunca se soube se estava vivo ou morto, pois as informações eram exageradamente escassas e o próprio Governo e as suas instituições – incluindo a Cruz Vermelha Portuguesa – pouco ou nada ligaram àqueles que, na sua opinião, eram considerados traidores.

O regresso a Portugal verificou-se em 9 de Maio de 1962, através de Carachi (Paquistão), no navio “Vera Cruz”. Desembarcou em Lisboa no dia 22 de Maio de 1962. Atingiu o total de 3.306 militares transportados, em mais dois, navios “Pátria” e “Moçambique” que tinha estado detidos.
Já agora registe-se um episódio curioso: Dado que a União Indiana não permitiu que aviões portugueses transportassem os prisioneiros do seu território para o país vizinho, aceitaram que esse trabalho fosse feito por aeronaves de outro país, neste caso duma empresa francesa. Só que as hospedeiras de bordo eram pára-quedistas portuguesas legítimas mas com o uniforme brasileiro. Foi uma delas que me contou esta história, a minha boa amiga Maria Ivone Reis.

Bem, no dia em que o Fernando chega a casa, na rua Cecílio de Sousa (por volta da hora do almoço, (conforme já relatei em:
http://albertohelder.blogspot.com/2007/09/fernando-hoje-era-o-dia-do-teu.html), eu, que vinha do emprego para almoçar, quando sai do eléctrico, na Praça do Príncipe Real, senti algo que me empurrava, que me obrigou a correr na sua direcção, pese embora houvesse entre nós mais de duzentos metros de distância e não em linha recta… Um mistério que ainda hoje não sei decifrar! Passou à disponibilidade em 27 de Março de 1963 e a baixa de serviço ocorreu em 31 de Dezembro de 1984.

1 comentário:

IVONE disse...

Mano.
Mais uma vez chorei ao recordares o nosso querido irmão. Tá com
categoria tudo o que lhe dedicas, as memórias e todos os passos que
ele deu na ida para a Índia e no regresso.
Foi uma tragédia a sua partida.
Todos os dias da vida me lembro dele a sua imagem a sua voz o seu sorriso e as vezes a sua rabugisse.
Tanta falta me faz.
Beijinhos Alberto e para
o nosso Fanan também.
Ivone